Uma Nova Representação Politico Cultural Para o MJC

O Museu Julio de Castilhos nasce de uma "vontade de memória" dos gaúchos através da exposição de objetos na 1° Exposição Agropecuária e Indústrial Gaúcha em 1901, no antigo campus da Redenção em Porto Alegre. Este acervo passa em 1903 a integrar o museu. A partir de 1905, o estado adquire a residência de Julio de Castilhos e torna-se a sede do "Museu do Estado" como também é conhecido.  Em 1907 o museu leva o nome do Patriarca do Rio Grande do Sul, Julio de Castilhos, onde o então Presidente do Estado, Borges de Medeiros, homenageia-o com o nome do referido museu, assim configurando um dos primeiros processos museológicos no estado, através da amostra destes objetos, dos chamados "Gabinetes de Curiosidades".
"O termo gabinete, segundo Herreman, passa a designar pequenas salas com coleções de objetos raros e de valor, a partir do século XVI, pois antes era um termo utilizado apenas para designar um móvel para guardar as coleções" (BEMVENUTI apud HERREMAN and LOPES, 1988. p.15).
Aos poucos, a residência foi sendo adaptada ao museu, recebendo reformas e instalações para a adequação de funcionamento e de acondicionamento do seu acervo, acervo este, que recebe em 1937, a inscrição no livro Tombo de Belas Artes da Subsecretária do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 1950, com o advento de novas ciências e análises sobre o campo museal, novos conhecimentos propiciam o surgimento de espaços e instituições que atuem especificamente em determinado campo, assim surgem o Museu de História Natural (atual Museu da Fundação Zoobotânica), o Museu de Arte do RS (MARGS) e o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS), e posteriormente outros, estes citados, tem como base o desmembramento do acervo das tipologias de arte, de documentos históricos, de botânica, mineiros e outros, do Museu Julio de Castilhos.
Obviamente, o museu precisou se readaptar as mudanças, e a partir do seu acervo focou na análise histórica, para contar parte do processo historiográfico do estado e de sua constituição. Como bem ressalta (LEAL, 2010. p.55) a importância dos acervos neste processo, "O acervo é o meio pelo qual se buscará construir a identidade do museu com seu público, criando um sentido profundo entre ambos. Parcerias precisam ser implementadas para que haja produção e interpretação em relação aos acervos."
Certamente, até pelas condições de mudanças de compreensão da sociedade e sistemas governamentais ao longo dos anos, o museu perpassou diversas secretarias e espaços dentro do governo do estado, até se firmar como instituição cultural, precedendo inclusive a própria Secretaria de Estado da Cultura, ao qual hoje está vinculada.
Agora na contemporaneidade, outros desafios permeiam nossa ação, no que tange a atividade político cultural da instituição museológica mais antiga do RS, um desafio de se compreender as conjecturas e as associações, sejam elas  em comitês, redes, sistemas, trabalhos cooperativados e outras formas dispositivas de se interligar com todas as áreas de pesquisas e comunicações que produzam informações e conhecimentos, assim se transformam tarefas no museu, e se configuram novos papéis de quem deve orientar caminhos para o museu, ou seja, a direção e sua equipe.
Papéis este, como a ampliação de programas educativos, que vem fomentando importantes construções históricas, na escolha de protagonizar novos discursos museológicos, seja por recursos estéticos e simbólicos, seja por atração de fluxo de lazer e entretenimento, mas elaborações das exposições e espaços de visitações dos museus. "O fazer museal, pela própria diversificação dos acervos de emergência de novos públicos, abandona a mera descrição, passando pela prática e absorção de técnicas que, entretanto, ainda estarão demasiadamente centradas no conhecimento susceptível de ser transmitido" (BEMVENUTI apud GUARNIERI, 1989. p.09).
E outras tarefas que perpassam a gestão, no sentido de compreender o museu como campo de representação de um todo (como exemplo a cidade que o situa), do estabelecimento de relações e correlações que este precisa estabelecer com a comunidade, com as instituições congêneres ou aproximadas, para que o museu seja palco de múltiplas linguagens artísticas e culturais, fortalecendo o seu papel de difusor de conhecimento e incentivando pesquisa como elemento de educação, de interpretação e significação histórica.
Por isso, estamos compondo o Grupo Gestor da Rede de Educadores em Museus do RS, como espaço de trocas e debates, mais efetivamente sobre  a ação educativa em espaços museais, somos os representantes dos museus do estado no Colegiado Setorial de Museus do RS, que propõe ser um espaço de políticas públicas para o setor, assumimos também a Coordenação Colegiada do Comitê Gaúcho do Escudo Azul/UNESCO, como forma de compreender procedimentos de segurança e salvaguarda de acervos, no contato permanente como profissionais capacitados de setores bem específicos no trato de acervos com museus e instituições culturais, e nos inserimos nas redes sociais, como forma de democratização dos procedimentos internos e informações sobre a instituição, fazendo com que mais pessoas passem a reconhecer o museu como espaço de memória, participamos do Sistema Estadual e Nacional de Museus, assim como, a política pública nacional de museus, perfazendo interlocuções com outras instituições museais e afins. Desta forma, o Museu Julio de Castilhos, segue tanto a sua tradição de ser vanguarda na área museal, quanto na representação histórica do personagem de lhe dá o nome.
Este é um novo papel que só é possível, porque outros diretores, já forjaram a história dessa instituição, mas que as novas tecnologias, e a transversalidade estética, cidadã e econômica da cultura nos desafia a repensar os museus, e dessa forma, estamos construindo uma nova política cultural para o Museu Julio de Castilhos.

Joel Santana
Diretor do Museu Julio de Castilhos


Referências Bibliográficas

BEMVENUTI, Alice. Museus e Educação em Museus - História, Metodologias e Projetos, com Análises de caso. UFRGS. Porto Alegre. 2004

LEAL, Nóris. O Papel dos Museus de História no Mundo Contemporâneo. IEL e CORAG. Org. Andrea Silveira e Luiz Capra Filho. Porto Alegre/Museu Julio de Castilhos. 2010